A escabiose (derivada do latim: scabere=coçar) ou sarna foi uma das primeiras doenças humanas que teve sua causa conhecida. É uma doença parasitária contagiosa, causada por uma única espécie de aracnídeo do grupo dos ácaros, da família Sarcoptidae, o Sarcoptes scabiei 3 que acomete o homem e também outros mamíferos, independente de climas ou regiões.
O Sarcoptes scabiei é um minúsculo ácaro de corpo globoso, de cerca de 400µm. Com suas partes bucais perfura a pele do hospedeiro e juntamente com a saliva e produtos do seu metabolismo gera um prurido intenso que fica mais irritante se o hospedeiro está protegido por cobertas. O ato de coçar acaba por dar entrada às bactérias, especialmente as dos gêneros Staphilococcus e Streptococcus. Uma vez dentro da epiderme, os adultos perfuram túneis ou galerias, deixando lesões em forma de vesículas, pápulas ou pequenos sulcos, nos quais as fêmeas que já copularam depositam seus ovos (3 a 4 por dia). As larvas eclodem 3 a 5 dias após e permanecem nas galerias ou sobem à superfície, nas crostas que as recobrem, onde se alimentam, sofrem mudas e 8 a 10 dias depois, completam o seu desenvolvimento para o estágio adulto. O ciclo do ôvo até as fêmeas grávidas demora cerca de 20 dias 3.
Os sintomas incluem uma erupção cutânea com coceira intensa acompanhada de pequenos nódulos avermelhados. Aparecem, geralmente, nas regiões interdigitais, punhos (face anterior), axilas (pregas anteriores), região periumbilical, sulco interglúteo e órgãos genitais externos (nos homens). Em crianças e idosos, podem também ocorrer no couro cabeludo, nas palmas das mãos e plantas dos pés. O prurido intenso é causado pela reação alérgica a produtos metabólicos do ácaro. Essa manifestação clínica se intensifica durante a noite, por ser o período de reprodução e deposição de ovos do ácaro1.
A escabiose ocorre no mundo todo e afeta pessoas de todas as raças e classes sociais, masestá vinculada a hábitos de higiene. É frequente em guerras e em aglomerados populacionais. Geralmente, ocorre sob a forma de surtos em comunidades fechadas ou grupos familiares 1. É transmitida pelo contato direto com a pele de uma pessoa infestada pelo ácaro ou pelo contato da pele com as roupas pessoais ou de cama de pessoas infestadas. De uma maneira geral, a escabiose de um hospedeiro não passa para outro. Se um ser humano entra em contato com um cão com escabiose, pode adquirir o parasita, mas não vai apresentar os sintomas clássicos da escabiose humana e vai curar-se espontâneamente em alguns dias 3.
Alguns historiadores que estudam a Medicina Egípcia, cerca de 3.000 a.C, reconhecem descrições semiológicas, em papiro, de quadros dermatológicos como herpes, escabiose, erisipela, impetigo, varíola e eczemas2. A Bíblia também traz referência sobre a sarna no contexto das Dez Pragas do Egito (Êxodo 9:8-12), relatada como úlceras: “(…) a cinza do forno (…) espalhou pelo céu, e tornou-se em sarna, que arrebentava em úlceras nos homens e no gado.”
Antigamente, sobretudo na Idade Média, essa doença era muito comum entre a população europeia. Posteriormente, com o advento de medicamentos mais eficazes e métodos de higiene mais aprimorados, ela tomou-se rara. A partir da década de 70, houve um aumento do número de pessoas parasitadas, fato relacionado provavelmente com o aumento da população, facilitando o maior contato entre as pessoas em ambientes coletivos (ônibus, por exemplo), promiscuidade sexual e mudança no comportamento humano em geral 3.
O controle efetivo da escabiose em saúde pública deve ser baseado no tratamento (Ivermectina) em massa associado à educação em saúde 4.
Referências utilizadas:
- Ministério da Saúde, BRASIL. Doenças infecciosas e parasitárias. Guia de bolso. 8a edição revista. 2010.
- MONTEIRO EO. Escola antiga de dermatologia egípcia. http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?id_materia=4266&fase=imprime. Acessado em 27/07/2014.
- NEVES DP. Parasitologia Humana. 11a ed. São Paulo. Atheneu. 2005.
- HEUKELBACH J, OLIVEIRA FAS, FELDMEIER H. Ectoparasitoses e Saúde Pública no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(5):1535-1540, set-out, 2003