A peste bubônica invadiu a cidade de Salvador em julho de 1904 (Gazeta Médica da Bahia, julho de 1904).
Desde o final do século XVIII foram adotadas algumas medidas para preservar a cidade da peste. Foi montado um Desinfectório ao lado da Hospedaria dos Imigrantes em Monte Serrat, e foi construida uma ponte que permitia o acesso aos passageiros e suas bagagens nos navios. O Desinfectório executou o seu primeiro trabalho no dia 17 de outubro de 1901, com os passageiros do vapor nacional “Brazil”, originário do Rio de Janeiro. Segundo o relato de Menandro dos Reis Meirelle Filho, diretor do Desinfectório do Mont-Serrat, as desinfecções foram feitas de modo regular, apesar dos protestos dos passageiros. Além do Desinfectório, havia também uma casa chamada de Zona Impura, que funcionava como triagem dos navios e passageiros procedentes do porto do Rio de Janeiro. Os passageiros que tivessem os sintomas da peste eram alí mantidos isolados para serem examinados pelos médicos encarregados das pesquisas bacteriológicas 2.
As autoridades federais e estaduais tentaram, sem sucesso, estabelecer um cordão sanitário em volta do porto. O médico Antonio Pacífico Pereira (1846-1922), diretor de Saúde Pública, recomendou a adoção de medidas defensivas na cidade, tais como o extermínio dos ratos, a recuperação de velhos edifícios no centro de Salvador, o fechamento de porões e sótãos e a completa remoção do lixo. De acordo com a legislação existente, essas medidas tinham de ser realizadas pelos municípios, sobre os quais o governo estadual exercia pouco controle. Isso constituía um obstáculo à adoção de medidas sanitárias, pois as autoridades municipais sempre evitaram entrar em choque com os interesses comerciais locais, ameaçados pelos planos de renovação urbana. Depois de ter invadido o porto, a doença espalhou-se livremente até os arredores da cidade1.
Assim, em 7 de julho de 1904, uma vez reconhecida a peste bubônica na cidade de Salvador, instalou-se uma enfermaria de emergência na Hospedaria de Imigrantes, na baixa de Monte Serrat, sob a responsabilidade do médico Augusto de Couto Maia (1876-1944), catedrático de microbiologia da Faculdade de Medicina da Bahia 2.
Em 1909, o governador Araújo Pinho assinalou que só uma melhora geral nas condições sanitárias de velhos cortiços e edifícios públicos, especialmente na parte da cidade próxima do porto, poderia reduzir a infestação de ratos 1.
A peste bubônica atacou repetidas vezes a cidade de Salvador até 1915, quando a Lei Municipal de 1915 autorizou o governo do estado a adotar uma série de medidas de saneamento na capital, em especial na Cidade Baixa. Em 1919, a varíola e a peste bubônica espalharam-se por todo o estado. O Serviço de Saúde estabeleceu comissões temporárias nas localidades afetadas pelas epidemias. Em 1921 e 1922 surtos de peste bubônica assolaram o interior. Equipes médicas federais e estaduais foram enviadas aos municípios de Serrinha (ligado à capital por ferrovia), Feira de Santana (importante centro comercial), Camisão e Castro Alves, a oeste da capital. Campo Formoso, a noroeste, sofreu uma segunda epidemia de peste 1.
Em 1928, outra vez a cidade esteve sob ameaça, mas o Código Sanitário de 1925 deu às autoridades sanitárias as condições de debelar o surto epidêmico, com o estabelecimento de cordões sanitários e o uso de vacinas e soros 1.
Referências utilizadas:
- CASTRO SANTOS LA. de. As Origens da Reforma Sanitária e da Modernização Conservadora na Bahia durante a Primeira República.Dados, Rio de Janeiro , v. 41, n. 3, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581998000300004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 14 Nov. 2013.
- LOURENÇO MF, Hospital Couto Maia: Uma Memória Histórica (1853-1936). Revista Baiana de Saúde Pública 37 (supl 1):90-107, 2013